domingo, 28 de outubro de 2012

Canções do Exílio

Por minha terra ter palmeiras
onde canta o sabiá,
que minha terra tem palmares
onde gorjeia o mar.

Por minha terra ter primores
que tais não encontro cá,
que cantam aves invisíveis
nas palmeiras que não há.

Por nossos bosques ter mais vida
nossa vida mais amores,
que me ponho a escrever
com letras de macarrão.

Por nosso céu ter mais estrelas
nossas várzeas ter mais flores,
que minha terra tem macieiras
da Califórnia
onde cantam gaturamos
de Veneza.

Por não permitir Deus que eu morra
sem que desfrute os primores,
que nossas frutas são mais gostosas
e custam cem mil réis a dúzia.

Por minha terra ter palmeiras
ouro terra amor e rosas,
que minha terra tem gaiolas
onde pia o brasileiro. 

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Um Poema Lembrando Pessoa

Quem que disse que fazer poema
é por pra fora aquilo que sente?

Se as leis da comunicação dessem
ao coração tal libertinagem
qualquer sapo seria poeta
qualquer pessoa seria rã.

Mas o poeta, que é homem, longe
da beira do rio mas no meio
da cantiga faz o seu poema
pondo na chama do sol o círculo

Como quem corteja um inimigo
ele faz da dor um fingimento
Como o ébrio que busca equilíbrio
ele diz o que deveras sente.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

A Deus Adeus

Há violência no gozo
Há prazer na dor
Há muito amor no ódio
Há ódio no amor 
Há canto no desencanto
Há Leda na ausência
Há sede no pranto 
E há indecência na decência
Há amor no adultério
Há apatia na separação
Há ironia na tragédia
Há drama no folião
Há noite em todo dia
Há solidão na praça 7
Há escolha no suicídio
Há antítese pra toda tese
Há morte no que não há mais
Há eternidade na morte
Só em vida é que se morre
Há rima no paradoxo.