terça-feira, 9 de setembro de 2014

Do Abismo

Vivo em busca de um equilíbrio
na ladeira de uma existência
pérfida de compassos leves,
o abismo beira nos meus passos
o abismo dança nos meus pés.
Encaro o abismo de soslaio
seus tentáculos invisíveis
procuram meu ombro e pescoço
me convida para encontrá-lo
sua voz muda lá do fundo.
...Sinto sua respiração...
Bufa tão viva em minhas costas.
"vem fervor vem ver e volver
tão belo olhar do limiar
tão belas pedras pontiagudas"
parecem dizer seus sussurros.
O peso do mundo não diz
nem me pergunta, corrobora.
Fito esse abismo, ele devolve
seu olhar lá dentro de mim.
Silêncio. Vazio e reparo.
Infiro:
é chegado o tempo?

Você que tem a segurança
tal qual princípio do equilíbrio,
que não oscila e nada arrisca,
que paga em dia seu seguro
de um buraco de sete palmos
apenas; raso, protegido
fixo sob copas e troncos
retorcendo interrogação,
não pode saber da alegria
estonteante de viver
no limite da existência
e na margem da morte última.

Já, quando muito não demora
do abismo há de se encontrar
uma voraz vida profunda.
E desses sussurros nas costas,
asas para poder voar.
Do intenso perigo de queda
galgar o real equilíbrio.
Empregar a força motriz
- para tocar os céus e o sol -
do inquietante peso do mundo.
Porque o autêntico da vida
é saber que imensa é a lágrima
porque maior se fez o riso,
é entender que da tristeza
se extrai os melhores sorrisos,
é entremear os opostos
e abarcar ambas as metades,
é persistir, reafirmar
o desmanchar e edificar
do qual chamamos de existir.

O abismo beira nos seus passos
O abismo dança nos seus pés.

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