Vivo
em busca de um equilíbrio
na
ladeira de uma existência
pérfida
de compassos leves,
o
abismo beira nos meus passos
o
abismo dança nos meus pés.
Encaro
o abismo de soslaio
seus
tentáculos invisíveis
procuram
meu ombro e pescoço
me
convida para encontrá-lo
sua
voz muda lá do fundo.
...Sinto
sua respiração...
Bufa
tão viva em minhas costas.
"vem
fervor vem ver e volver
tão
belo olhar do limiar
tão
belas pedras pontiagudas"
parecem
dizer seus sussurros.
O
peso do mundo não diz
nem
me pergunta, corrobora.
Fito
esse abismo, ele devolve
seu
olhar lá dentro de mim.
Silêncio.
Vazio e reparo.
Infiro:
é
chegado o tempo?
Você
que tem a segurança
tal
qual princípio do equilíbrio,
que
não oscila e nada arrisca,
que
paga em dia seu seguro
de
um buraco de sete palmos
apenas;
raso, protegido
fixo
sob copas e troncos
retorcendo
interrogação,
não
pode saber da alegria
estonteante
de viver
no
limite da existência
e
na margem da morte última.
Já,
quando muito não demora
do
abismo há de se encontrar
uma
voraz vida profunda.
E
desses sussurros nas costas,
asas
para poder voar.
Do
intenso perigo de queda
galgar
o real equilíbrio.
Empregar
a força motriz
-
para tocar os céus e o sol -
do
inquietante peso do mundo.
Porque
o autêntico da vida
é
saber que imensa é a lágrima
porque
maior se fez o riso,
é
entender que da tristeza
se
extrai os melhores sorrisos,
é
entremear os opostos
e
abarcar ambas as metades,
é
persistir, reafirmar
o
desmanchar e edificar
do
qual chamamos de existir.
O
abismo beira nos seus passos
O
abismo dança nos seus pés.